A importância da doação para fortalecimento de organizações sociais

Joana Mortari • ago. 10, 2021
Há doze anos me deparei com o desafio de montar a área de desenvolvimento institucional na Associação Acorde. Recém saída do setor privado, adentrei - ingenuamente - no centro de uma estabelecida tensão: de um lado, o desejo do setor filantrópico de formar parcerias com organizações sociais fortes e eficazes em seus fazeres; de outro, a indisponibilidade de recursos para as áreas de mobilização de recursos, comunicação e financeira administrativa.
 
Apesar de ser possível apontar mudanças ao longo da última década, o fato é que mobilizar recursos financeiros para as áreas de sustentação das organizações sociais continua desafiador. Você já viu uma campanha de financiamento coletivo para financiar um plano de comunicação e captação de uma organização social? Certamente não. E qual a porcentagem de institutos e fundações brasileiras que apoiam o fortalecimento de organizações sociais como causa? Poucos. O caminho encontrado por muitas organizações sociais, já que os custos de desenvolvimento da organização continuam existindo, é escondê-los em narrativas mais fáceis de serem digeridas: fala-se mais da atividade fim e menos do que é necessário para que ela aconteça
 
O problema ao tirarmos de campo a conversa sobre a importância da doação para o fortalecimento institucional é que estamos reforçando padrões culturais herdados, que afetam o setor no Brasil e fora dele. A autora Nell Edgington chamou esta discrepância entre as exigências que formulamos para o terceiro setor em contrapartida ao setor privado de 'regras injustas que obstruem a mudança social', e lembra que enquanto as OSC têm que manter um limite de 20% de custos operacionais não ligados diretamente a seus projetos (nos Estados Unidos, aqui as exigências são de aproximadamente 10%), um relatório da The Bridgespan Group que analisou os custos operacionais de grandes empresas aponta que média é de 34%. Para empresas de tecnologia o número sobe para 78%. (Edgington; 32). 
 
Depois de 18 meses pandêmicos onde a capilaridade de acesso das OSCs foi não apenas compreendida, mas valorizada pela população brasileira, as OSCs estão em situação crítica de financiamento. Um estudo elaborado no segundo semestre de 2020 avaliou seu impacto da pandemia sobre as organizações da sociedade civil e revelou que a maioria das respondentes relatou que foram muito (36%) ou parcialmente (37%) enfraquecidas pela COVID-19. (MOBILIZA & REOS; 9). Eu imagino que este número, hoje, esteja bem maior.
 
Para lidar com esse momento, a Acorde criou o projeto “Desenvolvimento Institucional 2021 a 2023” convidando indivíduos e empresas a doarem 3 quotas anuais. Esses recursos terão como foco as áreas de mobilização e comunicação, pensando em sua sustentabilidade financeira a médio prazo. Serão três anos de investimento em processos gerenciais e de captação, seguindo as melhores práticas de governança do terceiro setor. Se quiser fazer parte dessa rede de doadores, entre em contato no email mobilize@acorde.org.br.

A hora de mudar este paradigma é agora. Precisamos buscar coerência entre o que queremos do setor social e como doamos.


Bibliografia:
Edgington, N. "Reinventing Social Change: Embrace abundance to create a healthier and more equitable world". Page Two Books, 2021. 
 MOBILIZA CONSULTORIA; REOS PARTNERS. 2020. O impacto da Covid-19 nas OSC brasileiras: da resposta imediata à resiliência. Disponível em: https://sinapse.gife.org.br/download/impacto-da-covid-19-nas-oscs-brasileiras-da-resposta-imediata-a-resiliencia-sumario-executivo. Acesso em: 3 de agosto de 2021.
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18 abr., 2024
Texto escrito por Dafner Vida, Coordenadora dos Programas Socioeducacionais da Acorde
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