O processo socioeducativo da Acorde
A resposta de uma parceira da Acorde à seguinte pergunta:
"Você acredita que nosso trabalho é inovador?"
Imagine uma menina de 6 anos que mora na periferia de Embu das Artes, filha de uma mulher preta que trabalha o dia todo na informalidade. A escola onde estuda é precária, não há espaço seguro para ela no contraturno, e o acesso a cultura, lazer ou alimentação de qualidade é quase inexistente.
Essa menina chega na Acorde. E o que ela encontra ali não é apenas um espaço de proteção. Ela encontra uma comunidade inteira disposta a caminhar com ela, todos os dias, por até 12 anos.
Ela começa com o brincar livre, com rodas de conversa, oficinas de arte, de corpo, horta, além do convívio e expressão de sentimentos. Mas o que muda sua trajetória não é só o conteúdo dessas atividades, é a forma como ela é tratada desde o início.
Ao longo dos anos, ela aprende a plantar, colher e cozinhar o que vem da horta da Acorde, que fica dentro de uma área de preservação ambiental. Aprende que comida também é afeto, cultura, escolha. Aprende a cuidar do corpo com as oficinas de culinária e esporte, mas também da mente com conversas sobre identidade, raça, território, futuro, que vem desde as oficinas de educação ambiental, até as oficinas de gênero e sexualidade e semanas temáticas.
Quando chega na adolescência, ela passa a escolher suas oficinas, realiza projetos de impacto socioambiental, participa de debates, conhece referências negras e indígenas, e pela primeira vez ouve que sua história importa.
Mais tarde, com 16 ou 17 anos, ela assume responsabilidades reais: vira monitora de turma dos menores, ajuda os mais novos, recebe uma bolsa. Aprende sobre o mercado de trabalho, faz seu primeiro currículo, participa de uma entrevista simulada. Descobre que pode trabalhar com oportunidades do mercado formal, que sabe se comunicar, que tem "valor". Aprende que pode sonhar.
Ao mesmo tempo, a mãe dela também foi acompanhada. Participou de rodas com outras mães da comunidade, foi orientada a acessar políticas públicas, se sentiu ouvida e respeitada. Descobriu que a Acorde não “ensina sua filha”, constrói junto uma rede de apoio que fortalece toda a família. Nos momentos mais difíceis dessa jornada, contou com uma escuta afeuosa da assistente social e recebeu as orientações que precisava, enfrentou esses momentos e não fez isso sozinha,
Essa menina, agora uma jovem, termina sua trajetória na Acorde com 18 anos. Mas ela sai diferente: ela sonha, com autoestima, com referências, com repertório, com habilidades reais, emocionais, culturais e profissionais. Sai sabendo quem é, de onde vem, e para onde quer ir. Ela é protagonista da sua jornada, da sua vida.
"- Se isso não é ser inovador, então eu não sei o que é inovação!"